A indústria vive um momento de imensa transformação.
Com as novas tecnologias de automação, estruturas modulares e interoperabilidade entre equipamentos, a forma que o valor é gerado em manufaturas está mudando. Isso, consequentemente, impacta na reconstrução de alguns dos princípios que sempre orientaram o modelo de negócios no setor produtivo.
Esse processo de metamorfose é uma consequência da chamada quarta revolução industrial ou Indústria 4.0.
A tendência para o futuro é que fábricas inteligentes potencializem a produtividade e reduzam despesas e o esforço humano necessário para a geração de valor. E a mobilidade industrial é um dos passos que muitas empresas estão dando nessa direção.
Se até um passado recente muitas linhas de produção dependiam de sistemas fixos e milhares de folhas de papéis para realizar suas atividades, hoje já é possível utilizar dispositivos móveis (smartphones e tablets) para agilizar e simplificar diversas rotinas de trabalho.
O objetivo deste artigo é explicar melhor o que é a mobilidade industrial e como ela vem sendo trabalhada no Brasil. Além disso, vamos sugerir formas de implementação da mobilidade em uma indústria e expor os principais desafios desse processo.
Boa leitura!
O que é Mobilidade Industrial?
Antes de aprofundar no assunto, é fundamental contextualizar sobre qual tipo de mobilidade industrial estamos falando. O termo pode ser utilizado para mais de uma finalidade, como em processos do setor de transporte.
Mas, neste artigo, nossa intenção é abordar a mobilidade industrial no sentido da possibilidade de acompanhar, informatizar e potencializar as rotinas da empresa por meio de dispositivos móveis e softwares especialmente desenvolvidos para esse objetivo.
Um exemplo disso é a possibilidade de eliminar o papel físico e centralizar processos e documentos em um sistema na nuvem, que pode ser acessado por colaboradores em tempo real e em qualquer lugar, por um smartphone ou outro dispositivo móvel.
Até mesmo algumas atividades mais complexas podem ser suplementadas com a tecnologia, como aplicações que permitem a realização de inspeções com termovisão, utilizando apenas a câmera do smartphone, e não um equipamento específico.
“Quando esses sistemas são implementados é possível observar o que pode ser substituído por smartphone ou dispositivo móvel com características mais robustas”, explica Flávio Iglesias, diretor e sócio-fundador da Sigga.
Além de smartphones, diversos outros equipamentos fazem parte da mobilidade industrial. Com a Internet das Coisas (IoT), os dispositivos da fábrica conseguem se comunicar em tempo real sem a intervenção humana direta.
Essa interoperabilidade entre equipamentos permite rotinas mais velozes, dados mais precisos e uma automatização maior de processos. Os beacons, por exemplo, são acessórios que permitem a interpretação de marcadores virtuais por Bluetooth. É uma evolução direta do RFID, que é a identificação por radiofrequência.
Só que enquanto o RFID tem algumas limitações em relação à quantidade de informação armazenada, o beacon é mais versátil e pode reunir muito mais dados.
Como implementar a Mobilidade Industrial?
O primeiro passo para implementar a mobilidade industrial é elencar em quais atividades e operações da empresa as tecnologias de mobilidade poderão ser aplicadas com sucesso.
Para elaborar isso melhor, é interessante promover conversas entre especialistas em novas tecnologias com experiência em indústria e as equipes operacionais que trabalham diretamente na rotina da fábrica.
Dessa forma, é possível descobrir as melhores aplicações para a mobilidade e como ela pode apoiar o trabalhador nas tarefas que ele executa.
A gestão também participa do esforço para o mapeamento dessas demandas e colabora tanto com facilitação do encontro como com sugestões do que pode ser feito no contexto atual da empresa.
Uma vez que os processos são mapeados, é interessante mensurar o tempo gasto nessas rotinas antes da implementação da tecnologia e assim, ser capaz de comparar essa métrica depois.
“É muito grande a redução de tempo. Um papel qualquer tem que ser impresso e repassado para alguém, que executará, anotará e devolverá para outra pessoa, que por sua vez digitará e colocará no sistema”, observa Flávio. Ele ainda completa: “Com um dispositivo móvel, você envia para o sistema e a pessoa já faz o serviço, registra no dispositivo, manda a informação para cair no sistema e, assim, ficar disponível. Desse modo, são encerradas várias etapas do processo”.
Depois de entender melhor as oportunidades de evolução, é hora de buscar por soluções que possam atender às demandas do negócio.
No Brasil, muitas empresas já estão caminhando em direção à mobilidade industrial, especialmente na digitalização de processos que antes eram feitos no papel. Mas enquanto alguns negócios utilizam softwares de mercado, outros tentam conceber uma solução interna, o que é uma aposta arriscada.
Por mais que uma indústria domine sua área de atuação e conheça suas necessidades tecnológicas, o investimento para construir uma estrutura interna, capaz de desenvolver uma aplicação de alta qualidade, é alto. E os melhores especialistas em software preferem trabalhar em empresas de tecnologia do que se limitar a uma empresa de outro setor.
Por isso, é sempre mais interessante contratar soluções do mercado que são desenvolvidas por especialistas que dominam a parte técnica do software e estão disponíveis para atualizar e aprimorar a aplicação.
Logo, a recomendação para a hora de implementar a mobilidade industrial é buscar por um produto consolidado no mercado e que seja desenvolvido por uma empresa com credibilidade, capaz de garantir o suporte necessário na aplicação da ferramenta.
É importante destacar que, se necessário, os desenvolvedores da solução de mercado terão responsabilidade em ajustar o produto para as demandas do negócio, principalmente durante a sua fase de implementação.
Além disso, também é comum que o fornecedor promova treinamentos a fim de maximizar o uso da ferramenta por parte dos clientes e parceiros.
Como funcionam os softwares voltados para a mobilidade industrial?
As tecnologias que envolvem a mobilidade industrial podem se manifestar de diversas formas. Uma verificação de manutenção em um telhado de um galpão, que antes colocava em risco um trabalhador, pode ser realizada por um drone, com muito mais segurança e agilidade, por exemplo.
Já o smartphone pode servir como interface para sistemas de todo tipo. E como é um dispositivo familiar para o público brasileiro, é bem mais aplicável e simples elaborar produtos para essa plataforma, já que a curva de aprendizado das equipes será menor.
Mas além do componente do dispositivo móvel, as aplicações relacionadas à mobilidade industrial usualmente são associadas a sistemas na nuvem, o que permite que usuários acessem informações sobre os processos de qualquer lugar, a partir dos seus equipamentos.
Um aplicativo para a gestão de estoque, por exemplo, pode disponibilizar funções práticas como o recebimento, entrada e movimentação de itens para os operadores diretamente em seus smartphones, mas consolida todos os dados coletados e ações realizadas em um sistema central compartilhado.
Já um aplicativo para a análise estratégica de indicadores de manutenção pode disponibilizar em uma interface simples um painel com as principais informações e KPIs da manutenção para a gestão, que poderá tomar decisões mais precisas e munidas de dados confiáveis.
Outro exemplo de solução de mobilidade industrial é um aplicativo para gestão de rotinas de manutenção, que facilita o trabalho do time operacional com a digitalização de ordens de serviço, medições e até planejamentos.
É importante que os softwares escolhidos por uma empresa sejam compatíveis tanto com os dispositivos móveis utilizados na operação como com o ERP que centraliza e estrutura os processos do negócio.
A maior parte dos ERPs são construídos de uma forma modular em que é possível integrar esse tipo de aplicação com facilidade. Esse deve ser um ponto de atenção especial na implementação da solução, já que qualquer ruído entre a comunicação desses softwares pode prejudicar sua eficácia.
Quais os desafios da mobilidade na indústria
Segundo o estudo “Antes da TI, a Estratégia”, da IT Mídia, mobilidade e automação operacional são as prioridades para 500 maiores empresas instaladas no Brasil. A pesquisa consultou CIOs de empresas, que elegeram os dois conceitos como as tecnologias que eles acreditam que causarão maior impacto em seu setor nos próximos 2 anos.
Mas além das muitas oportunidades de aprimoramento presentes nessas tecnologias, também existem desafios que vão precisar ser superados e que, aos poucos, vão sendo descobertos.
Em uma pesquisa de 2016 da VMware, a segurança surgiu como o principal desses desafios e a maior preocupação de executivos de tecnologia em relação à mobilidade em empresas de todos os setores.
E, de fato, ao mesmo tempo em que os sistemas na nuvem são mais práticos e muito mais velozes que os métodos tradicionais, existe o receio de que dados importantes possam ser acessados por pessoas externas ao negócio — ou que até mesmo processos de trabalho possam ser alvo de interferência de invasores no sistema.
Para superar essa questão, é necessário investir em formas de controle de acesso mais restritivas, como a autenticação em duas etapas, além da limitação da permissão de edição e visualização, dependendo da hierarquia do usuário em um sistema.
É fundamental, também, investir em soluções técnicas como softwares de proteção de dados e backups seguros e atualizados de informações mais decisivas.
Outro desafio relacionado à mobilidade industrial é entender o retorno sobre o investimento realizado. Algumas vezes, pode parecer custosa a implementação de uma inovação no negócio, mas isso não pode frear o desenvolvimento. É preciso calcular o ROI e visualizar quando o investimento será pago pela melhoria no operacional.
E no caso da mobilidade industrial, é interessante observar que as indústrias maiores geram retorno mais rápido, porque a quantidade de processos abrangidos é maior e isso faz com que a melhoria seja ainda mais perceptível.
Em negócios menores e com recursos limitados, pode ser mais difícil justificar o investimento. Por isso, é importante sempre calcular como cada nova tecnologia reduzirá custos ou aumentará as receitas do negócio.
Mas mesmo com esses desafios no caminho, a mobilidade industrial não chega mais como uma opção para o setor. “As empresas que não se adequarem estão fadadas ao fracasso, com perdas consideráveis. Elas serão superadas por concorrentes que conseguirão fazer mais com menos”, afirma Flávio.
Portanto, as empresas que contam com a mobilidade industrial bem desenvolvida conseguirão realizar suas atividades com despesas menores e processos mais integrados, que garantem produtos melhores.
Quais são os impactos causados pela mobilidade industrial?
A mobilidade industrial permite que gestores tomem decisões com mais agilidade e precisão, pois são capazes de acessar a informação coletada em tempo real, sem o desperdício de minutos preciosos que seriam necessários para digitar dados coletados em um sistema.
Da mesma forma, colaboradores podem enviar e consultar dados relevantes de onde estiverem, por meio de um dispositivo conectado.
“Com isso, por meio de um app, a informação pode ser utilizada em gráfico e, assim, fazer um diagnóstico, verificar como está a planta e o equipamento naquele momento e, a partir disso, tomar uma decisão”, exemplifica Flávio.
Há mais agilidade, efetividade e precisão na informação e, consequentemente, uma decisão mais rápida e mais precisa. Outra vantagem se dá em relação aos custos. Como os dados são coletados e processados em tempo real, não é mais preciso esperar o fim do mês para gerar esse relatório. Dessa forma, é possível pensar com inteligência a estrutura de despesas do operacional.
A mobilidade também deve simplificar a quantidade de equipamentos utilizados pelos colaboradores, já que os dispositivos móveis são versáteis e podem ser utilizados para uma série de funcionalidades.
“Um exemplo é o termovisor. Você não precisa ter um pirômetro ótico, checando cada terminal para ver se a temperatura estava alta”, relembra Flávio. Com um smartphone, por exemplo, já é possível realizar diversos tipos de tarefas que antes demandavam câmeras e sensores específicos.
A mobilidade industrial é um passo que está sendo dado em direção à Indústria 4.0. Com a implementação de soluções baseadas em plataformas móveis, é possível agilizar processos, tomar decisões melhores e reduzir despesas na empresa.
O objetivo deste artigo é apresentar algumas das possibilidades que já estão sendo exploradas hoje no setor e dar uma breve visão do que deve ser o futuro da mobilidade nas indústrias.
Naturalmente, este conteúdo é só uma introdução a essa tendência. Para saber mais sobre ela, a recomendação é continuar pesquisando e lendo sobre o assunto, além de experimentar algumas das soluções que já existem e são utilizadas com sucesso no mercado.